segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eleições 2008: um breve balanço




Realizaram-se, no último domingo (05/10), eleições municipais em todo o Brasil, à exceção de Fernando de Noronha e do Distrito Federal. Delas se puderam extrair algumas novidades. Mas houve também a ratificação de alguns aspectos importantes nas urnas.

O principal deles é a confirmação insofismável de que dado mandatário não transfere votos, facilmente, a outra pessoa. Isso se revelou muito claramente na eleição para a prefeitura de Belo Horizonte. Personagens centrais: o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, o atual prefeito de BH, Fernando Pimentel e o candiadato à prefeitura, Márcio Lacerda. Aécio (PSDB), nas palavras de Juca Kfouri, um misto de socialite e yuppie, e Pimentel (PT) se uniram e juntos resolveram lançar e apoiar a candidatura do magnata Márcio Lacerda (PSB). Disso, surgiu uma mais do que improvável aliança entre PT e PSDB, já que ambos protagonizam a maior rivalidade partidária da história recente da política no Brasil. Mas até aí nada de mais, alianças casuístas não são nenhuma novidade na política brasileira.

O que de fato surpreendeu foi o equilíbrio entre Lacerda e o candidato Leonardo Quintão (PMDB) no primeiro turno. Os dois terminaram empatados tecnicamente e disputarão a prefeitura no segundo turno. Ora, houve quem dissesse que Aécio e Pimentel, dois dos grandes líderes da política de BH e de Minas, juntos conseguiriam eleger até um poste. O povo de Belo Horizonte mostrou que não é bem assim e o páreo está completamente indefinido. Como diria Mané Garrincha: "só faltou combinar com os russos"!

Há outros exemplos parecidos na história política brasileira. Nas eleições presidenciais de 1960, Juscelino Kubitschek, popularíssimo àquela altura, não conseguiu eleger seu sucessor, o marechal Henrique Teixeira Lott. Aqui no DF, em 1994, o à época todo-poderoso governador Joaquim Roriz não elegeu seu afilhado político, Valmir Campelo. Nessas ocasiões, Jânio Quadros e Cristovam Buarque, respectivamente, sagraram-se vencedores.

Outros municípios: na cidade de São Paulo, vale mencionar as derrotas acachapantes do malufismo e da opus dei. Paulo Maluf (PP) e Geraldo Alckmin (PSDB) tiveram votações bem abaixo de suas expectativas. O segundo turno terá de um lado o atual prefeito Gilberto Kassab (DEM), apoiado pelo governador do estado de São Paulo, José Serra (PSDB). Do outro, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), apoiada pelo presidente Lula. Favoritismo para Kassab, uma vez que receberá o apoio de Alckmin, o terceiro colocado. Vale lembrar também, que Lula, embora tenha vencido com certa folga as eleições presidenciais de 2006, perdeu na capital paulista, nos dois turnos, exatamente para Geraldo Alckmin.

No Rio, vale destacar a surpreendente escalada de Fernando Gabeira (PV), que irá ao segundo turno. Ele enfrentará Eduardo Paes (PMDB), candidato que terá o apoio expresso do governador Sérgio Cabral e velado do presidente Lula. Grandes derrotados: o senador Marcelo Crivella (PRB) e sua Igreja Universal do Reino de Deus. Além do atual prefeito, César Maia (DEM), que viu sua candidata, Solange Amaral, ter um desempenho pífio.

Em Salvador, a exemplo das eleições de 2006, mais uma derrota do carlismo. O outrora favorito, ACM Neto (DEM), sequer chegou ao segundo turno. Sendo assim, a disputa será entre João Henrique Carneiro (PMDB), apoiado pelo ministro da integração nacional, Gedel Vieira Lima, versus Walter Pinheiro (PT), que terá o apoio do governador Jaques Wagner, seu correligionário. O presidente Lula, provavelmente, ficará neutro. Talvez apoie veladamente o candidato do PT.

Em Porto Alegre, a disputa em segundo turno será entre o atual prefeito José Fogaça (PMDB) e Maria do Rosário (PT). Apesar da candidata petista ter ficado em segundo lugar no primeiro turno, ela terá grandes chances de vitória no segundo. Isso porque a terceira colocada, Manuela d'Ávila (PCdoB), e a quarta, Luciana Genro (PSOL), tiveram votação expressiva e pertencem a partidos de esquerda, tal qual Maria do Rosário. Portanto, o voto de ambas deverão em maioria migrar para a candidata do PT.

Então é isso. Como sempre gosto de me posicionar sobre o que escrevo. Estou com Marta, em São Paulo; Gabeira, no Rio; Walter Pinheiro, em Salvador; e Maria do Rosário, em Porto Alegre. Em Belo Horizonte, não tenho preferência por nenhum dos dois candidatos. Ah, já ia me esquecendo... entre as sempre presentes patacoadas e fanfarronices eleitorais, destaca-se a eleição de Túlio Maravilha. O centroavante do Vila Nova foi o terceiro vereador mais votado de Goiânia e entre 2009 e 2013 "representará" seus habitantes na câmara municipal. Está virando moda, em 2006, o ex-centroavante do Paysandu, Robson, o Robgol, foi eleito deputado estadual no Pará. Tragicômico!