terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Efeitos do aquecimento global no Aberto da Austrália



Dois acontecimentos chamaram-me muito a atenção nos últimos dois dias no Aberto da Austrália. Dois tenistas, que estavam muito bem em seus respectivos jogos, sucumbiram ao calor de Melbourne e abandonaram suas partidas.

Segunda-feira, a bielo-russa Victoria Azarenka fazia uma partidaça contra a estadunidense Serena Williams. No primeiro set, a bela Azarenka, de apenas 19 anos, destruiu Serena, vencendo com propriedade por 6/3. Mas a partir do início do segundo set a bielo-russa começou a dar sinais de extremo cansaço. Tanto é verdade que quando perdia por 2 games a 1, ela começou a passar mal, vomitando e chorando. Logo após isso, a jovem tenista foi atendida nos vestiários. Ela voltou logo em seguida e demonstrou claramente que não teria condições de terminar a partida. Azarenka estava tão tonta, que parecia que a qualquer momento poderia desabar em quadra. Deu medo e a apreensão tomou conta de todos os presentes na quadra, inclusive de sua adversária, Serena Williams. A bielo-russa, mesmo com uma condição física deplorável, ainda permaneceu em quadra por alguns games. E quando o placar apontava 4/2 para Serena, Azarenka desistiu da partida e saiu de quadra aos prantos, acompanhada pela equipe médica do torneio (foto). Temperatura em quadra: 52° C.

Partiu o coração ver Victoria Azarenka chorando feito uma criança. É muito duro, para qualquer esportista, chegar preparadíssimo (a) para um evento e capitular diante de um problema físico. Foi o caso de Azarenka, que chegou muito bem para o Aberto da Austrália, tendo, inclusive, vencido há poucas semanas um torneio em Brisbane, no mesmo país. Mas ela tem apenas 19 anos e acho (torço também) que ela vai muito longe em sua promissora carreira. Menos azar para Azarenka (essa foi inevitável).

No dia seguinte, terça-feira, algo muito parecido aconteceu com o sérvio Nowak Djokovic, número 3 do mundo. No início de sua partida contra o estadunidense Andy Roddick, os termômetros da quadra apontavam 54° C. Djokovic venceu o primeiro set por 7/6 e perdeu o segundo por 6/4. Até aí o jogo estava bom e equilibradíssimo e ambos tenistas estavam bem fisicamente. Porém, no terceiro set, Djokovic começou a sentir o calor que a essa altura (pasmem) estava em 58° C. Impressionante! Quando o narrador e o comentarista disseram que era essa a temperatura dentro da quadra, na hora não acreditei. Mas logo depois as câmeras mostraram o termômetro instalado dentro da arena. E era verdade, no terceiro set a temperatura da quadra era de 58° C. Sendo assim, o sérvio perdeu o terceiro set por 6/2 e abandonou a partida no início do quarto, quando perdia por 2/1.

Alguns questionam o caráter e o espírito esportivo de Djokovic, já que ele possui um histórico de alguns abandonos em sua carreira. E sempre quando está perdendo e se vê numa situação irreversível. Acho um pouco leviano dizer isso. Basta ver os olhos do sérvio na foto acima. Os mesmos que questionam Djokovic, elogiaram o comportamento do argentino Juan Martín Del Potro. No mesmo dia, Del Potro foi trucidado pelo suíço Roger Federer por 3 sets a 0, parciais de 6/3, 6/0 e 6/0. No jargão do tênis tomou uma bicicleta, ou seja, dois pneus (6/0 e 6/0). Mesmo assim, o argentino, honrosamente, terminou a partida e respeitou o público que pagou ingresso em Melbourne. Não sei não. Acho que o caso de Djokovic foi diferente e antes de respeitar o público ou coisa que o valha, o atleta tem que respeitar sua própria integridade física. Quando não dá, não dá.

Isto posto, a discusssão é: o que fazer com o esporte quando o calor estiver intenso? Cancela-se o evento esportivo se os termômentros marcarem temperaturas exageradamente absurdas? Difícil responder. Se por um lado não restam dúvidas de que a saúde dos atletas deve ser priorizada, por outro, o esporte (bem como o show, diriam João Bosco e Aldir Blanc) tem que continuar. De todo modo, no caso do Aberto da Austrália, a organização deste Grand Slam tem sido extremamente incompetente. As duas quadras principais do torneio possuem tetos retráteis, daqueles que abrem e fecham. Logo, o que custa fechar o teto da arena para amenizar o calor, quando a temperatura superar os 45° C, por exemplo? Eles estão querendo matar um tenista? Ou estão querendo prejudicar tenistas oriundos de regiões gélidas? Ora, Azarenka é bielo-russa e Djokovic é sérvio, países notadamente de baixas temperaturas.

Ainda faltam cinco dias para o fim do Aberto da Austrália. Vamos ver as providências dos organizadores do torneio, uma vez que a expectativa meteorológica é de que o calor aumente na Austrália, nos próximos dias. Vamos acompanhar e semana que vem estarei de volta fazendo um balanço do primeiro Grand Slam do ano. Até lá!

3 comentários:

Andrecatuaba disse...

58 graus! Inconcebível! Com 40 já tá tudo derretendo! PQP!

Sérgio Bertoldi disse...

Seria bielo-russa ou bielorrussa pela nova ortografia?

Bom...acho mesmo é que se escreve, se fala, e se pensa: "biela russa!"

:)

Leo Almeida disse...

Claro que quando o calor "atacar" no aberto da Australia nao devem cancelar o torneio ate porque isto seria impensavel para um torneio Grand Slam. O fato e que a Rod Laver Arena, quadra central do complexo de Melbourne Park possui teto retratil que pode perfeitamente ser fechado quando o calor for tao forte. O que falta agora e entender a tal da "heat Policy" dos australianos.